sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os perigos da meia conversão


Falemos dos convertidos para alguma fé. Uma coisa é seguir em frente na mesma fé herdada dos pais e assumida pessoalmente, e outra optar por outro púlpito, outros pregadores, outras maneiras de orar, outra forma de ver a ação de Deus na pessoa e na comunidade. De repente, alguém ferido no corpo e na alma encanta-se com as noticias de que em determinados templos existem curas e palavras de conforto. Não vai lá pelos dogmas, e sim pela cura e pelo conforto. Em questão de fé, o sentir pesa muito mais do que o intuir ou o entender.

Na verdade, o convertido pensa em si, depois em Deus. Ele quer respostas que alguém lhe oferece em nome de Deus, e são aquelas respostas prometidas que leva um convertido ao novo templo. Ele queria e por enquanto achou um lugar e um ambiente que favoreça a pratica da sua fé. Se vier a decepção sempre haverá outros templos e outras igrejas… Muda-se!

Quando o culto e as pregações da Igreja na qual foi batizado não o satisfazem e o entusiasmo e as pregações da outra Igreja trazem respostas tipo: Deus é, Deus quis, Deus quer, você foi escolhido..., ele se identifica. É a palavra que eu andava procurando... Paulo toca no assunto quando escreve a Timóteo sobre os que procurariam outros mestres que diriam ou desejariam ter ouvido. (2Timóteo 4,-1-5). Sentir-se escolhido e eleito é outra coisa do que ser um no meio de bilhões. Esta singularização já levou muita gente da grande para as pequenas comunidades onde são mais notados e acolhidos.
O gigantismo nem sempre ajuda uma Igreja. Não há ministros para cuidar de tanta gente. Equivale ao hipermercado com mais de 100 mil visitas diárias e número insuficiente de funcionários. A pessoa procura melhor atendimento. Isso tem acontecido com a Igreja Católica, além de outras diferenças que levaram muitos fiéis a procurar Igrejas menores onde se sentem menos número. Não é o dogma que as leva para lá. É a atenção e são as promessas e garantias de resultado que todos os dias são mostrados lá na frente ou na televisão. Vão para os templos onde a graça acontece e é mostrada. Os católicos fazem o mesmo quando vão a lugares de peregrinações ou movimentos onde se sentem singularizados.
‘Você’ e ‘Deus’ e ‘Jesus’ são as três palavras palavra mais usadas por esses pregadores. Corresponde ao que estes fiéis queriam ouvir. Convertem-se porque querem o melhor para si. Depois é que começam a querer o louvor de Deus e o melhor para os outros. Mas quando vê a dificuldade e este fiel que mudou de fé percebe que não aconteceu o melhor, a doença voltou, os problemas voltaram, a filha não mudou, o marido não mudou, ou voltam ou vão procurar o mais novo pregador e a mais nova Igreja que apareceu na televisão. É para lá que fazem romaria. Há um novo pregador bombando na mídia. E vão ouvi-lo porque sua religião é altamente personalizada da mesma forma que é sua fé. Mudam também o enfoque a partir do pregador em evidência. Se ontem era Jesus, depois era o Espírito Santo, agora é o Pai. Se ontem era a graça Universal , agora é o Poder Mundial. Se ontem era o “não sofra mais”, agora é o “não espere mais”. Decida!
Os nossos tempos, a mercê da cultura do indivíduo soberano, geraram milhões de migrantes da fé. Mudam com enorme facilidade, e sem nenhum drama de consciência, de um templo para o outro e de um caminho para o outro. E ouvem os pregadores a dizer que se não estão confortáveis num caminho devem buscar sua realização no outro, porque Deus criou muitos caminhos para que o indivíduo exerça sua liberdade de escolha. Na maioria das vezes é o jeito de o pregador justificar porque ele mesmo mudou duas ou três vezes, trocou de Igreja ou de grupo, de espiritualidade e até fundou a própria, sempre dizendo que Deus queria a mais nova Igreja.
“Você não está feliz onde está? Venha conosco!” – é o que se ouve nesses púlpitos. Mas não há muita lógica, porque nunca se ouve dos mesmos pregadores: “Você não está feliz conosco? Procure outra Igreja”. Aí, não! Vir pode, ir embora é abandonar o caminho certo! O marketing chega a ser deslavadamente cruel. “Deixar a outra Igreja pode, deixar a nossa, nunca!” Não se ensina que não há Igreja nem religião perfeita, nem estradas perfeitas. Uma pode ser melhor do que a outra, mas sempre haverá buracos, empecilhos, barreiras. Aí, depende muito de o indivíduo ser capaz de se perdoar e perdoar a sua Igreja que, segundo sua avaliação, errou para com ele não lhe dando o conforto que ele esperava. Perdoará a mais nova Igreja quando ela também falhar? E ele, por acaso não precisa pedir perdão à sua antiga e agora à sua nova Igreja? As Igrejas são pecadoras, mas o sujeito que muda de opção quando as coisas não saem do seu jeito não é?
Contornar barreiras e seguir aquele caminho ou decepcionado voltar atrás porque não achou o que queria, esse é o grande drama da conversão. Se foi opção verdadeira, o convertido pensará nos outros e fará todos os sacrifícios possíveis para prosseguir no caminho de sempre. Se não foi opção pelos outros e sim por si mesmo, ele mudará e irá lá onde de um jeito ou de outro era protagonista e fará o que sempre sonhou fazer. Mas no novo caminho, ao primeiro grande conflito se converterá de novo. Ou deixará de praticar, ou mudará outra vez e achará algum culpado pelo seu novo desânimo, evidentemente. O problema nunca será ele. Mudou porque os outros não o acolheram ou respeitaram.
O perigo da meia conversão existe, como também existe o perigo da meia vocação, da meia promessa e do meio casamento. Todos eles se assemelham à meia virgindade. A história de todas as religiões coincide neste aspecto. Os que ficam e perdoam sua Igreja e os que se cansam dela e buscam outra que lhe fale mais ao coração. Os dogmas aparecem depois. As dúvidas contra sua própria Igreja são alimentadas pelo pregador que deseja mais alguém em suas fileiras, sempre cuidadoso, e não mostrar os podres da sua Igreja. Lá tudo é graça, tudo é força, tudo é luz porque um novo tempo exige uma nova igreja. O marketing é bonito, mas nem sempre honesto! A maioria muda pensando em si e sai pensando em si. Não havendo nem alteridade nem altruísmo, não haverá ascese; e não havendo ascese, foi apenas meia conversão. Se o ego do fiel for outra vez desafiado ele não hesitará em mudar. Sua individualidade está acima de qualquer religião ou fé. Releia a Segunda Carta de Paulo a Timóteo (4,1-5). Já naquele tempo a alteridade andava em baixa!
Padre Zezinho, scj

Nenhum comentário:

Postar um comentário